Tinha tido novamente o mesmo sonho. Quase todas as noites, desde que comprou o livro azul, o rapaz escalava o monte sagrado em sonhos e, depois de encontrar Ogama Sennin, acordava suado e nervoso. As fantasias pareciam cada vez mais reais e o Grande Sapo Ermita acrescentava, gradualmente, algo à sua mensagem. Osorezu tinha uma grande imaginação, mas esta nunca lhe tinha pregado destas partidas... Isto não era com certeza a sua imaginação, era algo diferente. Agora ele acreditava piamente, ainda que sem qualquer fundamento lógico sólido, na existência da terra dos Sapos e, como se não bastasse, que os Sapos o esperavam. Para alguém como Osorezu, isto representava uma enorme mudança comportamental: um homem da ciência, à partida, não devia acreditar na predestinação. Mas a verdade é que a viagem tinha moldado de forma diferente a mente do jovem, estava algo diferente, e este estava mais que decidido a escalar a verdadeira montanha tal qual nos sonhos.
Levantou-se. Estava em Port City, ainda que a sua mente ainda estivesse lá no alto, com os Sapos. Pegou nas suas coisas e saiu calmamente da pousada. Após colocar o corpo fora da esteira da porta principal sentiu as frias correntes de ar que vinham do mar. As brisas ouviam-se sibilar junto do jovem. Um nevoeiro cerrado tinha caído sobre a costa, não se via nada nem ninguém. Osorezu sentiu-se só. A cidade estava calma e quieta, parecia desocupada. Provavelmente os barcos tinham já partido e dentro das casas estavam apenas as fadas do lar.
Oso quis sair deste ambiente semi-hostil o mais rapidamente possível, mas estava um pouco desorientado. O nevoeiro impedia-o de ver, a quietude da vila impedia-o de se guiar pelos sons e o jovem desconhecia aquela zona. Guiado apenas pelo coração, começou a caminhar lentamente por entre as ruas. À medida que andava, desanimava-se. O cenário à sua volta era desolador, até mesmo assustador: desde casas mal caiadas e abandonadas a mercados desertos e quase ruídos. As poucas pessoas com que se cruzava olhavam-no de maneira estranha. Não como os olhares a que estava habituado de quem vê pela primeira vez o ninja sem sexo, mas um olhar distinto e aterrador. O ninja que começara a andar lentamente, andava agora mais e mais apressadamente e com cada vez menos vontade de permanecer para explorar aquela vila. Os encontros com as frias pessoas na rua eram cada vez mais frequentes o que assustava o rapaz ainda mais. Ele já corria com todas as suas forças quando conseguiu encontrar a tão desejada saída de Port City. Saiu ofegante e desanimado. Estava nervoso, não tanto pelo que deixava para trás mas pelo que teria pela frente. Mas foi ao relembrar-se do seu verdadeiro propósito que a sua alma se encheu de energia e firmeza. Estava pronto!
Fora da cidade o nevoeiro era quase inexistente. Oso, depois de recomposto, com uma postura calma e segura, respirou fundo e pensou:
- É por aqui… Eu sei-o!
Olha agora em seu redor à procura de algo que reconhecesse. Não muito longe do sítio assinalado pelo segundo Tsuchikage, avistava-se uma montanha relativamente alta.
- Tal qual como nos sonhos…- pensou confiante.
Estava muito nervoso, mas sorridente. Suas pernas cambaleavam em cada passo que dava em direcção ao monte, as suas mãos suavam e o coração batia cada vez mais rápido. O momento da verdade chegava agora… Apenas no cume saberia o que fazer, o jovem teria de subir a montanha para que tudo terminasse.
Ele estava desejoso de chegar ao topo, estava curioso, estava impaciente. Cada passo dava, era um passo que revivia dos sonhos. Por isso fazia tudo para chegar lá cima o mais depressa possível. Corria como um louco rumo aos céus, de olhos fechados por ter já feito o mesmo caminho várias vezes. Uma aura de satisfação emanava dos rastros do velocista.
À medida que subia mais alto, a vegetação tornava-se mais densa. As árvores, muito raras, tornavam-se maiores e maiores, o mesmo acontecia com as ervas e os pedregulhos; o ar tornava-se mais húmido; a água abundava, havia rios, riachos, nascentes, viam-se salpicos por toda a parte. Já quase no alto, as árvores, cobertas de musgos, chegavam a ter 30 metros de altura; as plantas rasteiras tinham folhas exageradamente largas, em que o jovem se podia apoiar sem grande cuidado; havia uma nova espécie de «árvores» que aparentemente produziam água como uma nascente; o terreno não era acidentado e era muito pouco rochoso, as poucas rochas que havia eram estreitas e muito altas, a maior parte coberta de musgo. E depois apareceu um aglomerado de menires de cor escura e em forma de sapo. Osorezu reconheceu o local de imediato. Nada daquilo lhe era novo. Parou para descansar junto à cascata de óleo de sapo. Demorou uns minutos a recuperar o fôlego. Via o seu reflexo no estranho óleo e sorria. Tinha chegado tão longe.
Sorriu. Depois, foi vendo o seu sorriso estender e o seu coração dilatando à medida que se apercebeu dos sons à sua volta. Ouvia coaxar! Era definitivamente o som de uma população de sapos. O ninja caiu de joelhos, com a sua maior cara de satisfação. As estátuas, o rio de óleo, o som,… esta tinha de ser a terra dos sapos!
- Eu sabia!
Um jovem sapo que passava por ali, ouviu-o, e, meio que a medo, perguntou-lhe:
- Quem és tu?
Era um sapo enorme! Era talvez da sua altura, mas muito mais largo. Foi aqui que “a ficha caiu”. Isto era Myoboku. Isto era a verdadeira terra dos sapos. Isto era o sítio onde habitavam todos os legendários sapos que combatiam ao lado do Hokage!
- O meu nome é Osorezu, sou um ninja de Konoha. É um prazer conhecer-te Gamatatsu – respondeu rejubilando.
- Como sabes o meu nome?!
- Por acaso – disse assertivamente o jovem “humano”, com um sorriso calmo.
- Por…Acaso…?!
- AHAHAH! S-Sim!
O sapo ficou estático, pasmado, a olhar para Oso sem saber muito bem se devia acreditar nele. Depois de alguns segundos ele tornou:
- Trazes snacks contigo?
O rapaz esperava uma pergunta daquelas. Tinha vindo preparado e tinha trazido sensivelmente um quilograma de doces e chocolates. O jovem sapo tirou-lhos da mão sem cerimónias e comeu-os de uma vez. O jovem sapo estava visivelmente feliz com a oferenda.
- Vem comigo – disse sorrindo o sapo.
O jovem seguiu-o de imediato, estava fascinado com tudo isto. Gamatatsu guiou o ninja sem sexo para mais alto na montanha. Tal qual como em seus sonhos, os sapos viviam dentro das grandes “árvores” cónicas que libertavam água no seu cume. À parte disso, os anfíbios pareciam viver numa sociedade muito semelhante à dos humanos. Havia algumas dezenas de casas, não demasiadas, organizadas por aglomerados aqui e além. O sítio onde queriam chegar não era longe, não deu por isso muito tempo para que o pequeno shinobi analisasse muito mais. A casa onde entraram era relativamente espaçosa, fresca, escura, com aspecto de templo e ao fundo, ocupando quase um quarto da habitação, encontrava-se sentado um sapo gigante, uma mão do mesmo animal era talvez do tamanho do jovem Oso. Ele era grande, muitíssimo velho, castanho com a barriga branca, tinha uma cartola, um sorriso permanente e os olhos semicerrados. Manteve-se estático durante algum tempo. Este era, sem tirar nem por, o Sapo das profecias dos seus sonhos. Assim que se aproximou da besta castanha, esta disse:
- Finalmente chegaste…
- AHAHAH! Sim, desculpem a demora.
- Previ a tua chegada há muitos anos, ninja sem sexo. É impossível para um qualquer humano subir esta montanha sem que saiba o caminho secreto ou seja invocado por um de nós, mas tu… - parou um pouco – tu não és um qualquer humano. A minha profecia está prestes a ser concluída.
Esta era a deixa do jovem rapaz. Deu dois passos à frente e dois pequenos sapos, igualmente velhos, Shima e Fukasaku, estenderam-lhe um pergaminho á sua frente. Reconheceu o pergaminho, não dos sonhos, mas do livro azul. No livro havia referências aos pactos de sangue entre as espécies. Este era inequivocamente uma oferenda de aliança entre os Sapos e Osorezu.
Ao assinar isto, Oso comprometia-se a dar a vida pelos Sapos. De igual modo, depois de assinar, os Sapos dariam a vida pelo shinobi. Era talvez a escolha mais difícil de toda a sua vida.
- Osorezu, tu não nasceste como os outros. Tu não és um verdadeiro humano… És como nós! O teu lugar é connosco. Por favor- disse o Grande Sapo Ermita- junta-te a nós.
O ninja de Konoha, colocou-se de bruços e mordeu o dedo. Com o sangue que jorrava da ferida escreveu no pergaminho “O s o r e z u ”. Com isto, todos os sapos presentes sorriram. O homem-sapo era agora seu aliado.
- Obrigado! Confio que saibas as consequências do pacto que assinaste. De agora em diante és livre de requisitar a nossa ajuda. Saberás como nos chamar…
Gamatatsu acompanha o seu novo amigo até à cascata de óleo de sapo, onde se despedem carinhosamente. Ali tinha começado o que viria mais tarde a tornar-se na maior amizade entre Homens e Animais.
FIM